Cinco maneiras de obter embalagens médicas sustentáveis

Close-Up Of Green Capsules In Blister Packs

De indivíduos a grandes corporações, hoje muitos procuram maneiras de mudar para produtos e processos mais sustentáveis. Embalagens ecologicamente conscientes, que minimizam os resíduos e priorizam o uso de materiais recicláveis e biodegradáveis, tornaram-se o novo normal em grande parte de nossas vidas. No entanto, quando se trata de criar embalagens médicas sustentáveis, a indústria enfrenta uma série de desafios específicos.

Os fabricantes de plásticos desempenham um papel fundamental na criação de sustentabilidade ao desenvolver opções de embalagens a serem implementadas por fabricantes de dispositivos médicos e por profissionais. Quando encarregado de projetar soluções de embalagens inovadoras que possam atender cuidadosamente às complexas necessidades dos dispositivos médicos, logo surge a pergunta: é possível alcançar a sustentabilidade nas embalagens médicas? Nossa resposta: com certeza.

1. Reduzir, reutilizar, reciclar

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Apesar de ter desafios para a sustentabilidade específicos da indústria, o setor médico tem várias áreas onde podem ser feitas escolhas sustentáveis clássicas. Em um negócio de alta tecnologia, opções sustentáveis mais generalizadas podem ser negligenciadas, mas ainda assim contribuem para uma abordagem abrangente.

Os tipos de políticas podem incluir:

  • Reduzir qualquer embalagem desnecessária, inclusive a criação de opções de marca mais estratégicas que minimizem a quantidade de embalagem necessária.
  • Projetar linhas de produtos que incluam recipientes reutilizáveis e versões de ‘refil’ do produto para facilitar a reutilização.
  • Mudar para opções de embalagens com materiais recicláveis ou biodegradáveis para reduzir a quantidade de resíduos produzidos em aterros.

A indústria de plásticos tem um interesse particular nessas políticas. Os plásticos tradicionais não são biodegradáveis e o uso deles causa poluição tanto pela contribuição aos aterros sanitários quanto pela contaminação por microplásticos. Para evitar essas consequências ambientais, tem sido feito um esforço para reduzir a quantidade de embalagens e usar substitutos recicláveis ou biodegradáveis para os plásticos. Por isso, o desenvolvimento de novos polímeros e métodos de reciclagem são fundamentais para o futuro das embalagens plásticas.

A experimentação nos últimos anos produziu alguns avanços interessantes na tecnologia de plástico que podem ser utilizados para embalagens médicas sustentáveis, tais como:

O sucesso desses avanços tecnológicos depende muito da relação custo-benefício e escalabilidade. O uso de enzimas despolimerase para degradar o PET atingiu a barreira com enzimas como a cutinase de composto de galho de folha, cuja desnaturação em altas temperaturas, limita sua escalabilidade. Felizmente, o desenvolvimento de novas tecnologias como superenzimas degradadoras de PET, como PET hidrolase (a PETase), oferece a promessa de escalabilidade financeira e ambientalmente sustentável.

2. Desenvolver embalagens estéreis sustentáveis

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Um dos principais desafios para a sustentabilidade nas embalagens médicas é a necessidade de embalagens estéreis confiáveis. Garantir a esterilidade do conteúdo é fundamental para a segurança do paciente e não pode ser comprometida. A embalagem deve atender aos Padrões ISO de fornecimento de uma barreira estéril. Por causa disso, os plásticos, que são facilmente moldados e fornecem um ambiente estéril totalmente vedado, à prova d'água e não reativo, são um material ideal para embalagens estéreis.

Infelizmente, muitas dessas embalagens são de uso único e não são recicladas, gerando enormes quantidades de resíduo. Um estudo de 2022 em um hospital alemão constatou que as embalagens plásticas representavam 16 g de resíduos ao dia, por paciente. Esse consumo massivo de plástico para embalagens mostra a importância de inovar nessa área.

No entanto, o peso da criação de embalagens médicas sustentáveis para fins estéreis não recai apenas sobre a indústria de plásticos. Os fabricantes têm incentivado o uso de plásticos recicláveis, mas os esforços de reciclagem exigem infraestrutura para facilitar o uso dos fluxos de resíduos sustentáveis. Por exemplo, é obrigatório enviar qualquer embalagem aberta em um centro cirúrgico, após o início da operação, para o fluxo de resíduos de risco biológico. Para reciclar, a embalagem deve ser aberta em uma lixeira separada, que deve ser removida antes que o paciente chegue ao centro cirúrgico. Embora isso seja possível em muitos casos, exige que os médicos façam pressão por esse tipo de mudança nas salas de cirurgia.

Coma a reciclabilidade de embalagens estéreis é improvável, ou impossível em alguns casos, os fabricantes de plásticos podem ir além e reduzir ou substituir o conteúdo de plástico sempre que possível. Isso pode ser alcançado minimizando as embalagens plásticas apenas para o necessário ou desenvolvendo materiais alternativos bioplásticos, incluindo os seguintes:

Amido São adicionados amidos vegetais com plastificantes para criar embalagens farmacêuticas flexíveis ou rígidas com vida útil controlável, como as bandejas.
Celulose A celulose vegetal é usada para criar vários bioplásticos, incluindo o acetato de celulose usado em laboratórios e na indústria farmacêutica.
Quitina/quitosana Proveniente de invertebrados ou leveduras para criar embalagens antimicrobianas, a quitina pode ser desacetilada em seu derivado, a quitosana.
Xilana Derivado de paredes celulares de plantas e algas para criar embalagens farmacêuticas.
 
Proteína Várias fontes vegetais e animais com cadeias laterais modificadas para criar polímeros sintéticos usados em embalagens.

A análise de tendências dessas alternativas de bioplástico mostra que os bioplásticos à base de amido emergiram como os pioneiros em publicações de periódicos e patentes nos últimos 20 anos (veja a figura abaixo). A quitosana também tem se popularizado cada vez mais, exibindo uma tendência ascendente no número de artigos de periódicos e publicações de patentes. O desenvolvimento de bioplásticos que não são à base de petróleo e não produzem o mesmo resíduo nocivo quando queimados em fluxos de resíduos de risco biológico desempenhará um papel fundamental no futuro das embalagens médicas estéreis.

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O desenvolvimento de bioplásticos que não são à base de petróleo e não produzem o mesmo resíduo nocivo quando queimados em fluxos de resíduos de risco biológico desempenhará um papel fundamental no futuro das embalagens médicas estéreis.

3. Substituir os materiais de embalagem de proteção

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Embora o objetivo geral das embalagens médicas sustentáveis seja reduzir a quantidade ao máximo, o transporte de equipamentos delicados geralmente requer grandes quantidades de embalagens protetoras. Equipamentos médicos delicados ou sensíveis costumam ser caros e, por vezes, insubstituíveis, portanto, não é negociável garantir que sejam embalados com segurança para transporte.

Como a quantidade de embalagens não pode ser reduzida, é necessário fazer aqui escolhas estratégicas de materiais sustentáveis. O uso generalizado de poliestireno para esse fim produz resíduos em aterros sanitários e contaminação por microplásticos, mas, felizmente, já existem opções de embalagens sustentáveis em uso que podem ser adotadas pelos fabricantes de dispositivos médicos. A embalagem pode ser em grande parte feita de materiais reciclados ou biodegradáveis com o uso de plástico bolha, papelão picado e espuma biodegradável de amendoim.

O material de embalagem funciona principalmente com base no volume e é improvável que seja contaminado por riscos biológicos. Portanto, também há espaço para a circularidade na fabricação de plásticos. Se as empresas puderem encontrar maneiras de reutilizar embalagens e reciclar seus grandes volumes de resíduos em novos materiais de embalagem, elas poderão criar um ciclo de vida muito mais sustentável para embalagens à base de plástico.

Isso exigiria iniciativas para reutilizar materiais de embalagem em todo o setor médico, bem como o desenvolvimento de dutos de reciclagem nas empresas de fabricação de plásticos para criar novas embalagens e reciclar as antigas. Os fornecedores de embalagens poderão desenvolver a reciclagem de circuito fechado de resíduos de embalagens, tornando seus próprios produtos em materiais de embalagem. Isso aumentará a sustentabilidade e criará novos fluxos de receita.

4. Inovar no transporte de temperatura controlada

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A indústria médica não utiliza as embalagens somente para proteção. Muitos itens precisam ser transportados em embalagens que mantêm uma determinada temperatura. Essa é uma grande barreira para embalagens médicas sustentáveis devido ao uso generalizado de métodos de refrigeração e materiais de isolamento que não são sustentáveis.

Assim como acontece com os materiais de embalagem, a sustentabilidade das embalagens isolantes pode ser aperfeiçoada com o uso de materiais recicláveis ou biodegradáveis. A sustentabilidade pode ser ampliada ainda mais com o desenvolvimento de materiais isolantes mais eficazes, o que reduziria a quantidade total de isolamento necessária. Assim, o desenvolvimento de novos polímeros para criar opções de materiais isolantes mais eficazes e ecologicamente corretos pode ser uma excelente oportunidade para os fabricantes de plásticos.

Materiais isolantes sustentáveis que usam alternativas ao plástico, como papelão ou plásticos com alto valor de reciclagem, começam a ser disponibilizados ao mercado, mas ainda há espaço para materiais isolantes sustentáveis de alta eficácia, adaptados para atender às necessidades específicas do setor médico.

Juntamente com o isolamento, a distribuição da cadeia de frio requer o uso de serviços de transporte e freezers com temperatura controlada. A eficácia aprimorada do isolamento nas embalagens pode aumentar o tempo que elas poderão ser armazenadas fora dos freezers, reduzindo a dependência de refrigeração com alto custo de energia.

5. Garantir a sustentabilidade do ciclo de vida

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Os materiais utilizados são somente uma parte da história na obtenção de embalagens médicas sustentáveis. Devemos garantir a sustentabilidade durante todo o ciclo de vida do material. Durante o desenvolvimento de polímeros recicláveis ou biodegradáveis, os fabricantes de plásticos precisam levar em consideração fatores como:

  • Escassez de matéria prima.
  • Transporte.
  • Consumo de energia na fabricação.
  • Acessibilidade para reciclagem e bioprodutos.

No caso dos bioplásticos, as alternativas à base de plantas são popularmente consideradas como totalmente sustentáveis. Porém, o uso de amido, celulose, xilana, quitina e polímeros à base de proteínas precisam ter o suporte de práticas agrícolas sustentáveis e renováveis que forneçam esses materiais.

Os plásticos PLA (ácidos poliláticos) são criados a partir de amido vegetal e foram originalmente anunciados como alternativas ao plástico, que são compostáveis e neutros em carbono. Infelizmente, as críticas cresceram rapidamente em torno da sustentabilidade real dos plásticos PLA, uma vez que exigem separação de outros resíduos e que sejam transportados para instalações especiais de compostagem. Embora tecnicamente o PLA seja decomposto nessas instalações, o processo é muito mais parecido com a reciclagem, tornando seu ciclo de vida semelhante ao dos plásticos tradicionais.

A história do PLA destaca a importância do processo de design de novos materiais sustentáveis, que levem em consideração o ciclo de vida completo. Garantir a sustentabilidade de novos materiais em termos reais ajudará a garantir seu valor e popularidade no longo prazo.

É possível obter embalagens médicas sustentáveis?

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Embora os fabricantes de plásticos tenham que superar desafios com requisitos para produtos médicos estéreis, delicados ou sensíveis à temperatura, há um enorme espaço e oportunidade para inovação. O desenvolvimento de novos bioplásticos e tecnologias originais de reciclagem de plástico abre as portas para o futuro sustentável das embalagens médicas. Quando combinadas com iniciativas de fabricantes e profissionais de dispositivos médicos projetadas para manter a reciclagem e a sustentabilidade no centro dos ciclos de vida das embalagens, essas tecnologias podem se mostrar o caminho para um futuro novo e mais sustentável no setor médico.